Mister Paulo Goulart, regressaram os estágios das seleções de futsal da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo (AFAH). Imagino que já estivesse com saudades de pisar os pavilhões após esta longa paragem...

Sim, é verdade! Desde março que parámos todos. As saudades eram muitas e aos poucos temos que nos ir habituando a voltar dentro das medidas de contingência que estão em vigor e mantendo as condições de segurança necessárias para retomar a atividade. Mas, obviamente, estamos todos a aprender, quer nós técnicos, quer os próprios jogadores, a retomar a atividade com estas novas condicionantes que têm implicações grandes a nível do treino e da competição.

 

A competição nos escalões de formação de futsal, a nível de clubes, começou há pouco. Sei que já teve oportunidade de assistir a alguns jogos. Daquilo que viu, ficou satisfeito com o desempenho dos jogadores, a nível físico e mental, tendo em conta a grande paragem que atravessaram?

Eu observei um jogo e o Márcio Mendes observou outro. Mas de qualquer modo é notório a quebra que se nota nos jogadores e nas equipas, quer pela falta de condição física, quer pela falta de rotinas, mesmo quer pela falta de hábitos de treino. É bastante acentuada a falta de identidade nos comportamentos dentro do campo, o que no fundo acontece por continuidade no treino e por hábitos de treino. E a quebra da condição física, pois estes miúdos não puderam competir nem treinar e também ficaram limitados na sua atividade física devido ao confinamento e às medidas posteriores a isso que limitaram muito a atividade normal de qualquer adolescente.

 

Vai agora arrancar para a terceira época consecutiva no comando das seleções de futsal da AFAH. Mantém na equipa o Márcio Mendes, também pelo terceiro ano. Considera ser uma mais-valia para esta época a estabilidade na equipa técnica, o facto de já conhecer os “cantos à casa” e de acompanhar ao longo dos anos muitos dos atletas?

Julgo que sim. Para nós enquanto técnicos sem dúvida que é uma mais-valia, porque no primeiro ano não tínhamos um conhecimento aprofundado dos jogadores no geral e dos selecionáveis como temos agora. E depois, se virmos o caso dos sub-17 são jogadores que já conhecemos desde os sub-14. Portanto é o terceiro ano de trabalho com eles e a nossa ideia de jogo está mais implementada neles do que estaria, obviamente, no primeiro ano, quando se trabalha pela primeira vez. O próprio conhecimento mútuo, quer nosso em relação aos jogadores, quer deles em relação a nós, também é muito maior. A nível da rentabilidade do treino, e uma vez que é uma das grandes limitações na seleção é treinar em estágios concentrados, poucas vezes e com muita informação para transmitir, o facto de os conhecermos já e de eles também nos conhecerem e à nossa metodologia de treino facilita muito na continuidade das ações, quer ofensivas, quer defensivas. Ainda em relação a esta questão, o facto de continuarmos há três anos, julgo que a nível associativo é também uma mais-valia para a AFAH. Passo a dar um exemplo: desde o primeiro ano que nós apontávamos como crítica, digamos assim, às três associações dos Açores, o facto de haver uma seleção sub-15 a nível nacional e uma sub-14 a nível regional, que eram duas seleções do mesmo escalão (iniciados), uma do primeiro ano e outra do segundo, achávamos que não era rentável no mesmo escalão etário ter duas seleções e, por exemplo, no escalão de infantis não ter nenhuma. A resolução que apontámos foi que a seleção de sub-14 desse lugar a uma de sub-13 e assim passávamos a ter uma seleção de infantis, uma de iniciados e outra de juvenis, ou seja, uma por cada escalão. Este ano, para a nova época desportiva, por acordo entre as três associações (as duas congéneres da AFAH nos açores foram recetíveis à nossa proposta) vamos ter um torneio regional que deixa de ser sub-14 e passa a ser sub-13 e dois torneios nacionais, caso ocorram, pois dificilmente será possível devido à pandemia. Com as três seleções, uma de cada escalão etário, julgo que será para nós mais fácil selecionar e deixa de haver um escalão privilegiado com duas seleções e outros esquecidos, por assim dizer, sem seleção. Julgo também que a continuidade do trabalho é mais evidente desta forma, porque podemos acompanhar os miúdos desde os sub-13 até aos sub-17.

 

Há já objetivos traçados para a época, quer seja possível participarmos nos torneios, quer não seja?

Em relação aos dois torneios nacionais, sub-17 e sub-15, a realizarem-se, e dificilmente será possível, o objetivo será sempre na lógica dos anos anteriores: tentar sermos competitivos, melhorar de ano para ano e no mínimo igualar a prestação do ano anterior. Estamos a falar de um nível superior ao que estamos habituados na nossa competição interna e, portanto, são torneios que servem de referência para analisarmos o nosso trabalho e a própria competição interna na nossa associação. A nível dos torneios regionais, estamos a falar de uma competição mais direta com as associações dos Açores e no fundo o objetivo aí é sempre ganhar os torneios, tendo consciência, claro, do valor das duas congéneres açorianas.

Na impossibilidade de participarmos nos nacionais, que será o mais certo, a nossa aposta passará por enquadrar na seleção sub-17 muitos jovens sub-16 para ganharmos um ano de trabalho para a época seguinte, e na de sub-15 serão integrados atletas sub-14. Obviamente que quem fica prejudicado nestas situações são os atletas que este ano seriam sub-17 ou sub-15, porque além de não terem a sua competição nacional, que é sempre um marco na sua formação desportiva, perdem também alguns estágios da seleção, em consequência da nossa aposta em ganhar um ano de trabalho com os jovens dos anos anteriores.

Para os sub-17 o torneio nacional marcaria o final do seu percurso nas seleções associativas. No entanto, se na época passada ainda se realizou o seu torneio, que decorreu no Natal e a pandemia apareceu só em março. Já os sub-15 do ano passado não tiveram a hipótese de ter o torneio nacional e alguns deles que iriam participar este ano no torneio sub-17 como sub-16, provavelmente também não terão esta oportunidade e sairão penalizados duas vezes. São contingências da época e do contexto que vivemos, mas esperemos que dentro em breve as coisas melhorem e estes miúdos não voltem a ser penalizados da forma que têm sido.

Publicado no DI